Luís Nachbin viaja ao Catar e mostra curiosidades do país em série que estreia no Canal Futura e Globoplay
Documentarista volta à estrada na série "Passagem para Reencontros" revê seus arquivos de viagens e revisita virtualmente personagens de países por onde passou
Durante os últimos 25 anos, o jornalista Luís Nachbin rodou o mundo — foram 94 países e a produção de cerca de 250 documentários. Nem os dois anos difíceis da pandemia, por vezes bastante angustiantes, conseguiram afastá-lo de realizar seu maior desejo: criar a série "Passagem para Reencontros", que estreia dia 1º de novembro no Canal Futura e na Globoplay. Nachbin revisita virtualmente 13 personagens que entrevistou entre os países participantes da Copa do Mundo. Mostrando as transformações no mundo e na vida dos entrevistados nos últimos 25 anos: a polarização, a pandemia e a própria conectividade digital, que permitiu a produção desta série com reencontros online.
Mas não só isso. Como a vontade de retomar as viagens era enorme, Nachbin decidiu gravar um episódio 100% presencial e, para isso, passou dez dias no Catar. Lá, registrou novos personagens, hábitos e curiosidades locais. Essa experiência vai ao ar justamente no domingo, 20 de novembro, às 19h30, dia da abertura da Copa do Mundo.
Durante essa estada, Nachbin mudou seus conceitos sobre o país. "A minha visão se relativizou muito, depois de ter passado 10 dias no Catar. São muitos os hotéis em que as pessoas podem consumir bebida alcoólica, inclusive à beira da piscina ou de uma prainha particular. Vi muitas mulheres de short e camiseta. Conversei com pessoas que me pareciam fora do padrão binário de gênero -- pelo jeito de falar, pela roupa, pela maquiagem", diz ele.
Contudo, é preciso estar atento às leis locais. "Os turistas devem prestar atenção a alguns limites. Os festejos e bagunça, nas ruas, terão que seguir um certo bom senso. Beber demais pode facilmente gerar o cruzamento de uma fronteira delicada. E, como consequência, acarretar em cadeia e deportação. Os casais podem caminhar de mãos dadas, mas não devem dar abraços calorosos, nem beijo na boca. Enfim, é pensar nos limites que a outra cultura pede. O meu discurso, aqui, talvez pareça de defesa de algumas regras sociais no Catar. Não é de defesa, nem de ataque. É de relativização e necessidade de adequação, do turista, à cultura local", avalia.
Antes, no dia 1º, data da estreia, Nachbin mostra seu giro pela cidade espanhola de Melilla, localizada ao norte da África, que enfrenta questões políticas. Neste episódio, o documentarista reencontrou o professor José Palazón que já denunciava em 2012 a grande cerca de Melilla. Dez anos depois, a cerca se transformou, gerando tragédias num mundo ainda mais dividido.
Além do Catar e Espanha, "Passagem para Reencontros" também trará personagens e histórias do Japão, Brasil, Gana, Alemanha, Costa Rica, México, Estados Unidos, França, Sérvia, Tunísia, Uruguai e Irã. Serão 2 episódios por semana, terça e quinta, sempre às 20h30.
"Uma das histórias que mais me impressionou foi a do Eric, um artesão que produzia caixão-fantasia, em Gana, na África. Caixão-fantasia é um caixão que remete à história da pessoa que faleceu: em forma de tomate para um agricultor; em forma de garrafa de cerveja para alguém que adorava beber… Em 2011, filmei a história do Eric em duas viagens: uma até Gana, onde ele morava; e outra aos Estados Unidos, onde ele foi dar uma oficina por 1 mês. Lá, me lembro de ter perguntado se ele não pensaria em ficar de vez nos Estados Unidos. Eric me respondeu, categoricamente: "De forma alguma". Onze anos depois, onde estão morando o Eric e a sua nova família? A resposta está no episódio", conta.
Rever essas histórias, viajar ao Catar e produzir essa série é a retomada de uma trajetória que promete ser longa e com ainda mais carimbos no passaporte. "O meu reencontro com a estrada foi maravilhoso, espetacular, delicioso, genial, tudo de bom! Sem exagero. Eu preciso estar em movimento rumo ao desconhecido. Isso já deixou de ser apenas um trabalho e se transformou em energia vital minha. Eu estava em crise de abstinência. A última jornada rumo ao desconhecido tinha acontecido em 2017, quando fui à Eritreia, na África. A minha música, a que fala de mim hoje, ou 10 anos atrás, 20 anos atrás, e vai falar nas próximas décadas, foi composta por Bob Dylan e se chama 'Like a Rolling Stone'. É como eu preciso viver", constata.
Sobre Luís Nachbin
Diretor, fotógrafo, cinegrafista, produtor e roteirista, Luís Nachbin já produziu, filmou e dirigiu mais de 250 documentários, no Brasil e em outros 94 países, sobre temas que vão do esporte à guerra. O jornalista é pioneiro no modo de produção conhecido como MoJo (Mobile Journalism), ou "equipe de uma só pessoa". Assim, ele trabalha desde 1997, contando sempre com colaboradores fora do campo. Em "Passagem para Reencontros" eles são: Luis Gustavo Ferraz (roteirista e produtor executivo), Pablo Carrilho (editor), Alice Reis (editor e designer), Rodrigo Marçal e Rafael Aloan (trilha sonora) e Luiz Carlos Carneiro (mixagem). Em 2001, ao cruzar os 9 mil quilômetros da Transiberiana com uma câmera na mochila, se tornou o primeiro e único documentarista a gravar, sozinho, um episódio na íntegra do Globo Repórter.
No ano de 2021, produziu e dirigiu a série "Data Science is in the Air" sobre modelos matemáticos desenvolvidos pela Universidade de Bath, na Inglaterra, no enfrentamento da poluição e Covid-19 em Ulan Bator, a capital da Mongólia. A série foi exibida na televisão nacional da Mongólia e nas mídias sociais da Universidade de Bath.
Os episódios da série "Passagem para Reencontros"
Episódio 1: "José, Espanha" Em 2012, o professor José Palazón já denunciava a grande cerca de Melilla, cidade espanhola no norte da África. 10 anos depois, a cerca se transformou, gerando tragédias num mundo ainda mais dividido.
Episódio 2: "Wagner, Japão" Em 1998, o brasileiro Wagner Lopes se preparava para jogar a Copa do Mundo pela seleção do Japão. 24 anos depois, revela por que esse foi um período difícil de sua vida e fala de seus novos desafios.
Episódio 3: "Ivanete, Brasil" Em 2010, Ivanete era uma ativista pelos direitos das prostitutas em Corumbá, Mato Grosso do Sul. Uma década e uma pandemia depois, como estão Ivanete e o Brasil?
Episódio 4: "Eric, Gana" 10 anos atrás, o construtor de caixões temáticos e artista não tinha dúvida: por mais que o sonho americano lhe chamasse, sua vida jamais seria fora de seu país, Gana. 10 anos depois, onde está Eric?
Episódio 5: "Hagar, Maike e Nico, Alemanha" Em 2017, elas dirigiam um time de futebol que acolhia refugiados na Alemanha. Até que veio a pandemia de Covid-19. E agora, como andam o Lampedusa Futebol Clube e a situação dos imigrantes no mundo?
Episódio 6: "Família Mendez, Costa Rica" Em 2006, Nachbin chegou à Costa Rica sem conhecer ninguém. Aos poucos, passou a fazer parte de uma família apaixonada por futebol. Muitos anos depois, o reencontro é cheio de novidades.
Episódio 14: "A Estrada, Catar" (episódio especial) Depois de se reconectar pela internet com personagens que filmou pelo mundo, Luís Nachbin se reencontra com a estrada. O destino é o Catar, em ano de Copa, em busca de novas histórias.
Episódio 7: "Eduardo, México" Em 2007, Luís Nachbin rodou pela superpopulosa Cidade do México a bordo do táxi do Seu Francisco. 15 anos depois, ao tentar reencontrá-lo através das redes sociais, acaba conhecendo Eduardo, seu neto.
Episódio 8: "Valerie, Estados Unidos" Em 2016, Luís Nachbin cruzou os Estados Unidos de trem. Em 2022, ele se reconecta com uma das passageiras que entrevistou na viagem, Valerie, na época eleitora convicta de Donald Trump.
Episódio 9: "Luc, França" Em 2014, o francês Luc dirigia o Kibera Black Stars, um time sediado na maior favela da África. 8 anos depois, ele reflete sobre a presença crescente dos africanos no futebol e na sociedade da França.
Episódio 10: "Samir, Tunísia" Luís levou só 2 minutos para se tornar amigo do empresário Samir. Em 2014, Primavera Árabe recente, falaram do convívio de religião e vida noturna na Tunísia. Anos depois, o convívio segue possível?
Episódio 11: "Denis, Sérvia" Em 2017, Denis se tornou um ex-refugiado. Foi expulso da Alemanha e teve que voltar para a Sérvia. Cinco anos depois, nos reencontramos com Denis para conhecer um pouco da vida que ele reconstruiu.
Episódio 12: "Yamandú, Uruguai" Em 2007, o Uruguai tinha o apelido de "pátria peregrina". Muitos jovens deixavam o país. Mas Yamandú, um artista, não tinha planos de sair. 15 anos depois, onde ele e os uruguaios querem estar?
Episódio 13: "Haleh, Irã" Luís Nachbin esteve no Irã em 1999. Com a ajuda da guia Haleh, conheceu mulheres marcadas por restrições e empoderamentos. 23 anos e muitas tentativas depois, o desafio é descobrir o destino de Haleh.
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