Estou escrevendo isso porque prometi nunca esquecer. Tivemos mais um cachorro por cerca de duas semanas. Quase toda preta, do jeito que eu sempre quis, com uma manchinha branca no peito, e alguns pêlos marrons nas laterais do corpo. Tinha cerca de 5 meses de idade.
Na manhã do dia dia 07/04 (quinta), a encontramos dormindo no banco da parada de ônibus, muito magra, quando iamos para o trabalho. Nunca a haviamos visto. Fiz carinho nela antes de embarcarmos no ônibus.
Na tarde do mesmo dia, a Jessica a encontrou novamente, quando saia para trabalhar, um tanto assustada com as crianças que lotavam a rua, saindo da escola. Jessica ficou com pena, pois ela parecia estar com fome, e a atraiu com ração até em casa, onde ela comeu.
Cheguei à noite, a vi no pátio, e ela primeiro latiu, como ‘dona da casa’, depois veio até mim feliz e faceira, receber carinho.
No sábado (09) ela tomou seu primeiro banho (que ela odiou), e conheceu os outros cachorros da casa (o que ela adorou). Se deram muito bem, principalmente a Lucy, com quem parecia muito no jeito brincalhão e 'vira-lata' de ser.
Passou a brincar com os outros cachorros durante o dia, e à noite dormia no pátio, sobre uma caminha improvisada com um cobertorzinho amarelo.
Comia pouco, o que nos preocupava, e tentamos dar um pouco de tudo: Carne, leite, ração, comida ‘de gente’, muitas vezes em vão.
Kira, como passamos a chama-la, fez tudo o que podia: Brincou dentro de casa, deitou e dormiu comigo num colchão no pátio, subiu na cama, se escondeu embaixo, fez xixi no lugar errado, virou o lixo, assustou os gatos, passeou na coleira (foi comigo até a parada de ônibus, levar a Jessica, e pareceu triste, até perceber depois que voltávamos pra casa, quando ficou muito alegre e me lambeu o rosto. Foi um cachorro feliz por pelo menos ótimos 10 dias.
No dia 18, parecia muito bem, comeu bastante. Comemoramos.
Na tarde do dia 19 (terça), começou a mostrar sinais de doença, salivando muito. A partir daí, já foi separada dos outros animais.
Na manhã do dia 20, ela pareceu piorar, demonstrando tiques nervosos na boca, e latindo sem motivo aparente, ficando um pouco arredia.
Na tarde do dia 20, pela hora almoço, a levamos ao veterinário, que a diagnosticou com Cinomose, algo do qual já desconfiávamos, baseado em pesquisas feitas na internet. A essa altura, ela já estava muito fraca, e teve convulsões do tipo epilepsia. Algo horrível de se ver. Compramos os remédios e iniciamos o tratamento no mesmo dia.
Passei a dar a ela os remédios, água e comida, via seringa, de 3 em 3 horas, mesmo durante a noite. As convulsões cessaram, mas os tiques nervosos na boca continuaram, e passaram a ser mais frequentes.
Parecia reagir muito pouco ao tratamento, e não conseguia se levantar ou andar. Neste ponto já conversávamos, tristes, sobre uma possível eutanásia, caso ela sofresse muito. Mas ela não parecia sentir dor, oapenas muito desconforto, então decidimos esperar e continuar o tratamento.
No dia 21, conseguiu levantar sozinha, e com muita lentidão e muito esforço, até chegou a chutar uma bolinha rosa, com a qual eu a estava incentivando. Uma cena feliz, mas ao mesmo tempo muito triste.
À noite, ela continuava mal, e passou a resistir mais a receber água e comida. De madrugada, como se me despedisse, cheguei até a cantar as músicas que minha mãe cantava pra eu dormir, e chorando, rezei para que, se ela não fosse se recuperar, que dormisse o sono eterno e não sofresse mais.
Às 6 da manhã do dia 22 de abril, sexta-feira santa, dei a ela o remédio de epilepsia, e a deixei deitada na sua caminha almofadada, e coloquei o alarme para às 9, sem saber que seria em vão.
Cerca de 7 e meia, ouvi alguns latidos fracos, e como ela não latia havia dias, tomei como sendo sinal de alguma recuperação. Os latidos se repetiram alguns minutos depois, e levantei para vê-la.
Quando a encontrei, ela estava tendo um tipo de espasmo. Eu segurei sua cabeça e seu peito, e como se estivesse me esperando apenas pra isso, ela foi imediatamente se acalmando, os espamos ficando cada vez mais fracos, e em menos de um minuto cessaram por completo, e também sua vida. Notei que ela já não respirava, nem havia batimento cardíaco. Chorando, me despedi de um dos cachorros mais dóceis e queridos que conheci, e fui avisar a Jessica da morte da Kira. Ela chorou, junto comigo.
Resolvemos enterrá-la no quintal da casa ao lado, que pertence à minha tia, mas que nunca foi habitada. Como ninguém entra e não há animais, e lugar seria deixado em paz. Escolhi um local ao pé de uma árvore, e cavei uma pequena cova.
A embrulhamos num lençol azul, e a colocamos dentro de uma caixa. Depositamos dentro da cova, enterramos, arrumamos algumas pedras sobre o local, e entalhamos KIRA na maior delas. O dia estava frio, o céu nublado, escuro, triste.
A vida não é justa. Um cachorro finalmente ganha a chance de ser feliz, e acaba morrendo desse jeito horrível. O pouco consolo que encontrei no ocorrido, foi o fato de que, antes de morrer, ela foi muito feliz, teve carinho, cuidados, e mesmo durante a pior parte da doença, não sofreu muito, além de ter tido minha companhia no momento da sua morte.
Hoje faz uma semana que a Kira morreu, e o dia amanheceu da mesma forma de 7 dias atrás: frio, chuvoso e triste.
Se houver mesmo um céu, ele deve ter animais, e caso seja meu destino ir para lá, espero encontrar a Kira me esperando, assim como os outros cachorros que já passaram pela minha vida: Milu, Bilu, os cachorros da família: Big, Doug, Tigre, Flock... e os de rua, sem nome, que me cativaram. Porque, como diz o título de um filme que nunca assisti: "Todos os cães marecem o céu". Concordo plenamente. A Kira, com certeza.
Thiago Henrik
Oi , meu nome é Laís Cristine. Escrevi um texto sobre cachorro no meu blog, sobre minha cachorra, na verdade e tentei procurar algo que se tratava no texto. Achei a foto do seu texto, mas eu fiquei tão curiosa por seu um cachorro tão bonito que eu resolvi lero que você tinha escrito. Eu amo cachorros, e quando li seu texto, mesmo de forma corrida, devo admitir, eu chorei, não há como não chorar. Já tive vários cachorros, amei cada um com todo coração, e sei como é perder eles também. Com certeza deve haver em algum do céu um pedaço destinado aos cachorros, porque eles são tão gentis e nos amam tanto que seria uma idiotice não ter. Queria te dizer que o que você fez por Kira foi muito bonito e raro e te dou parabéns por isso, não se ver alguém fazer isso por um cachorro de rua, dar amor como você deu.
Realmente um texto muito bonito e emocionante, espero que você esteja bem e espero também que sempre ame seus cachorros. Meus sinceros parabéns!