Fiz a vontade da namorada e fomos assistir a este filme na semana passada. Eu não sabia absolutamente nada sobre a trama, sobre todo o burburinho que cercava o filme, baseado em uma obra que eu nunca li nem ouvi falar antes (ou não prestei atenção). Não vi trailers, não li críticas, nada. Melhor assim, pois nada influenciou meu julgamento (exceto, talvez, os cartazes do filme no cinema, que diziam literalmente que este era o novo Crepúsculo).

Pra ser justo, a mórbida semelhança foi só pra atrair os fãs de crepúsculo, pois o filme é bem diferente. O trio de de Jogos Vorazes é muito melhor, inclusive as atuações.
Bem, começa o filme, e em 15 minutos estou extremamente entediado. A história não faz o menor sentido: algo sobre uma guerra em que os rebeldes perderam, e para evitar uma nova rebelião, a nação opressora mata todos os anos 2 jovens de cada país num reality show. Bela maneira de evitar uma revolta, né? NÃO!
Com certeza, o livro é melhor, explica tudo, e é super foda, etc. Mas um filme precisa se sustentar sozinho, e fazer sentido pra quem não leu o livro. E este, na minha opinião, deve ser uma péssima adaptação. Prova disso, é que minha namorada, que também não leu o livro, adorou o filme, mas achou ‘meio confuso’. Ora, ela é uma pessoa inteligente, não é do tipo que vê um filme e não entende. Se o achou confuso, é porque o filme falhou em contar a história, e acabou.
Nós todos no cinema, esperando o filme começar a fazer sentido ou ao menos ficar interessante.
Bem, somos apresentados a um casalzinho adolescente, numa vila decrépita, uma família em crise (o pai deixou a família, ou morreu, a mãe parece ter alguns problemas emocionais…), sempre sobre a ameaça de um governo ditador e opressor. Fico achando que a história vai se desenvolver a partir daí, mas não. A irmã da protagonista é escolhida pra parada (algo totalmente imprevisível, e que pegou todos de surpresa… NOT), a protagonista vai no lugar dela, e todo o resto desaparece. O namoradinho desaparece no filme completamente, a família idem.
O filme é cheio de incoerências. O povo odeia o governo, morre de medo do tal reality show, e mesmo assim o assistem fanaticamente. O namoradinho despreza o programa, diz que as pessoas deveriam parar de assistir, mas já inscreveu o nome dele pra participar da parada mais de 40 vezes!


A tecnologia da sociedade futurista do filme é capaz de feitos inacreditáveis, e mesmo assim, todos os anos milhões de pessoas precisam entrar numa fila, pra inscrever seu nomezinho num pedaço de papel, que é tirado, À MÃO, de dentro de um pote para escolher os candidatos. Faz sentido isso??
Quando sua irmãzinha é sorteada, a protagonista só precisa anunciar que vai no lugar dela, e fica tudo certo. Bem flexíveis as regras desse sorteio, não? E se basta pedir pra ir, por que o namoradinho precisou colocar o nome no pote 40 vezes?? Se só precisava levantar a mão?!

Barbas e cabelos bizarros: Assim imaginamos o futuro desde a década de 70.
Bem, a garota e um outro rapaz da vila viajam pra capital, e o visual do filme, que estava tão sóbrio e interessante, de repente vira uma porra-louquice, numa mistura de Brazil The Movie com Total Recall. Roupas e Cortes de cabelo super bizarros, parecendo um filme futurista produzido na década de 70 e 80. Saca De Volta pro Futuro 2, com suas jaquetas coloridas auto-ajustáveis e seus tênis auto-amarráveis?
A beleza e originalidade dos figurinos me encantou. Abaixo, Brazil, de 1985.
Quando o filme torneio finalmente começa, o entretenimento começa a melhorar. Bastante ação, mortes etc. O filme não falha na missão de te deixar interessado. O pensamento “O que eu faria nessa situação” é uma constante.
E é aí que começa a ficar ruim de novo. Os caras abusaram do Recurso da Burrice. Pra quem não conhece, o Recurso da Burrice é um recurso narrativo, utilizado pelo autor para fazer a história andar, se utilizando de ações estúpidas de um personagem.
Exemplo: Labirinto do Fauno – A protagonista, uma garota bastante inteligente, é orientada a entrar em um dungeon, pegar um item, e sair sem comer nada. “Mas estas frutas parecem tão saborosas….”. Ela come, de forma estúpida e injustificável, e é perseguida e quase morta por um monstro, que mata as fadinhas que a acompanhavam, levando a outros desdobramentos na história . Se ela tivesse feito como ordenado, nada aconteceria, portanto, o autor utilizou-se do Recurso da Burrice para fazer a história andar. Esse recurso é utilizado à exaustão por alguns autores, como J. K. Rowling, principalmente nos últimos livros da série Harry Potter.
Lenny Kravitz (isso mesmo) tenta entender o que passa na cabeça da protagonista.
[ZONA DE SPOILERS – NÃO LEIA SE NÃO TIVER VISTO O FILME]
Já nos jogos vorazes, o Recurso da Burrice é utilizado de forma abusiva em várias ocasiões. Algumas delas:
1 – Por que, quando a protagonista é emboscada e se refugia numa árvore, o máximo que fizeram pra tentar tirá-la de lá foi jogar flechas? Nem vou comentar a inacreditável incapacidade dos atiradores de acertarem uma flecha a 2 metros de distância, pois este é outro recurso narrativo. Até os Wargs, em O Hobbit, animais quase irracionais, pensaram em colocar fogo na porcaria da árvore.
2 – Na mesma cena, os sitiadores resolvem todos tirar um cochilo, sem deixar um ÚNICO vigia, tanto para impedir uma possível fuga da protagonista, quanto para se protegerem dos outros participantes do torneio. Isso permite, obviamente, que a protagonista fuja, caso contrário, o filme acabaria aí.

3 – A garotinha que a ajuda, cujo nome não me lembro, demonstrou em várias cenas, todo seu talento de Dark-shadow-stealth-silent-deadly-ninja, para, um dia depois de conhecer a protagonista, emburrecer totalmente, ser pega numa armadilha ridícula, gritar estupidamente, para chamar atenção de todos, o que acabou causando sua óbvia morte.
4 – Quando vai buscar remédio pro namoradinho número 2, a protagonista, uma arqueira nível 99, se vê na seguinte situação: protegida no meio das árvores, ela tem à frente dela uma enorme clareira, com uma pequena barraquinha no centro, onde estão itens que TODOS precisarão, inevitavelmente, ir pegar. Ou seja, “a goddamn sniper's delight”, como diria Aldo, o Apache. Perfeito para uma arqueira. Mas, em vez de esperar 5 minutos, e matar de forma fácil todos seus inimigos, o que ela faz? Recurso da Burrice levado às últimas instâncias: Sai correndo, em campo aberto, direto pra barraca! E é quase morta por isso! Paro por aqui…