Cabisbaixo, vaiado, derrotado. Essa foi a última imagem de Manoel de Brito Filho no Flamengo. Não era assim que ele merecia ter seu jogo de despedida.
Obina começou sua história no Vitória da Bahia. Mostrando seu talento com a bola acabou sendo destaque em um time que tinha como estrelas Edílson e Vampeta. Em 2005 foi contratado pelo time de maior torcida no Brasil, o Flamengo. A torcida, desconfiada, o perseguiu. Mas logo se rendeu ao seu carisma e faro por gol. Em 2006 Obina virou “melhor que Eto’o” (jogador camaronês do Barcelona que vivia seu auge) nos cantos da torcida e ganhou projeção mundial na maior vitrine brasileira, chegando a ser sondado pela Juventus da Itália. A torcida rubro-negra exigia sua convocação à seleção brasileira.
Obina salvou o Flamengo do rebaixamento, decidiu dois campeonatos estaduais, uma Copa do Brasil. Se tornou o 5o maior artilheiro do clube em Campeonatos Brasileiros. Virou ídolo.
Fazer o que ninguem acreditava em momentos cruciais tornou Obina uma figura mística. Surgiram ‘fatos sobre Obina’ e o ídolo virou lenda.
Com todo o sucesso, Obina não perdeu sua simplicidade e extrema humildade, características que o consgraram como xodó da torcida. Seu carisma o ‘salvava’ mesmo nos momentos em que em que a bola não entrava.
Mas atacante vive de gol. E a maior parte dos torcedores vivem de vitórias. Esse ano, após seis meses sem marcar, a torcida esqueceu tudo o que fez aquele que já foi chamado de “Anjo Negro”. Vaiado a cada jogo, a cada erro, a cada substituição, Obina não conseguiu marcar, não conseguiu ser decisivo. Vaiado quando foi substituído em um jogo em que um gol poderia dar a classificação contra o time tido pela mídia como o melhor do Brasil, Obina deixou o gramado para não voltar. Ao menos com a camisa rubro-negra.
Nesta segunda Obina foi emprestado ao Palmeiras, clube que disputa a Libertadores esse ano. O anúncio fez com todos os jornais do país esquecessem os jogos decisivos, a seleção brasileira, os Nilmares. Foi a primeira vez que Fátima Bernardes deu sorrindo a notícia de um empréstimo no Jornal Nacional. Terminou assim a saga de Obina no Flamengo. Uma saga que pode ser ilustrado por esse vídeo do Youtube, que apesar de meio antigo (não inclui o estadual do ano passado, nem o sacode Coritiba em que o Obina fez apresentação de gala) está atual em sua essência.
Nunca consegui idolatrar um jogador como vejo todos fazendo por aí. Com a exceção de Zico e outros grandes craques do passado, não entendo como alguem pode comprar uma camisa com o nome de um cara que daqui a dois anos pode estar jogando no maior rival. Vi os garotos à minha volta idolatrando jogadores como o Romário, sem entender. Os vi cortando o cabelo à la Ronaldo. Vestindo a camisa do Gaúcho, do Cristiano Ronaldo, do Beckham, do argentino Messi… E por que? Nunca consegui entender. E que foi que esses caras fizeram por eles?
Mas, pela primeira vez na minha vida, tenho certeza de que vou torcer por um jogador de outro time que não o meu. Vou torcer pelo Obina no Palmeiras. Vou torcer porque Obina torceu. Vi Obina torcendo por todos os seus companheiros. Vi Obina vibrando em gols que não eram deles. Vi ele passando a bola pra um atacante melhor posicionado, pros mesmos que não passaram pra ele. Vi ele abraçando, feliz da vida, Josieis, Zé Robertos… jogadores que pareciam torcer pelo fracasso de Obina. Jogadores que não vibravam em gols que não os seus.
Sei, e sempre soube, que Obina não é melhor que Eto’o. Não é melhor que Ronaldo, que Nilmar, que Fred, que Thiago Neves. Talvez seja pior que Kléber Pereira, que Diego Tardelli. Mas não é por sua habilidade que virei fã de Obina. Obina tem mais carisma que todos esses caras juntos, e uma humildade que não se faz presente em nenhum deles. Mas acima de tudo, Obina é raça. Foi essa raça que me conquistou.
Digo, sem vergonha nenhuma, que Obina me fez voltar a gostar de futebol. Obina me devolveu a alegria de ser torcedor, mesmo quando eu torcia pra ele ser substituído.
Por isso tudo é que Obina deveria ter saído de cabeça erguida, e com a sensação de dever cumprido. Porque Obina, como poucos, honrou o manto.
Torço pra que esse adeus seja um até logo. E que no final do empréstimo, ele volte. Como voltou outras vezes… Mesmo mesmo sem isso, Obina será eterno.
Abraços,
Thiago Henrik.